Cigana Fatima Amaya

Bandeira Cigana

***Não sabemos explicar muitos de nossos comportamentos mais expontâneos, porque fazem parte da nossa herança ancestral. Até que alguém acenda uma luz e nos diga claramente o porquê de detalhes que antes nem sequer notávamos.O extraordinário trabalho de pesquisa de Sándor Avraham é esta espécie de espelho, que nos deixa perplexos».

João Romano Filho (Sinto Estraxhari do Brasil)


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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Influência dos Ciganos




É muito comum misturar as informações sobre estas culturas. Desde que os ciganos se espalharam pelo mundo, é comum fazer confusões com suas danças nos países pelos quais passaram ao longo do tempo.
Já se sabe que os ciganos partiram do norte da Índia há quase 3000 anos e que estão hoje em todos os continentes. Chegaram em duas caravanas na Europa: uma que veio pelo Mediterrâneo passando pelo Egito, e outra que veio contornando toda a Ásia caindo na Espanha por Barcelona. O importante é saber que eles pousaram ali e lá uma parte se estabeleceu encontrando eco na Andaluzia, sul da Espanha e em especial em Granada. São os conhecidos Calons que também estão presentes em parte do sul da França e em Portugal.


Cabe mencionar que o cigano trás de berço o domínio das artes em toda sua plenitude: o canto, a dança, a música, as artes circenses, as artes manuais e as artes divinatórias. É um povo aglutinador e transformador de culturas no sentido de que absorvem e transformam ao seu jeito misturando sua própria cultura a do local por onde passa e praticamente dizendo-se dono dela ao relançá-la novamente. Não é o mérito da questão. Vale mencionar que o cigano aprendeu e misturou as culturas de vários países à sua própria. É aonde vemos tamanha diversidade no seu vestir, na função principal (trabalho) que caracteriza o dá (clã) e na sua dança. A língua é comum, pois a base da fala está em todos os dás(clãs) que é o romani. E “ROM” é a forma ideal de chamar por qualquer cigano.

Precisamos saber de que dá (clã) um cigano pertence para saber que dança ele faz. Por exemplo: uma grega terá características muito próximas da cultura local e, mesmo assim, com particularidades sobre o vestir, comer, falar e comportamento religioso assim como um cigano húngaro que toca violino e suas romis dançam rodopiando suas saias multicoloridas.
 
O Flamenco é uma arte surgida por um processo de miscigenação e fusão das culturas árabe, judaica, africana, de espanhóis pobres e migrantes além do próprio cigano. Este, por sua vez, é responsável por essa fusão que acontecia na clandestinidade, na marginalidade por serem sempre perseguidos por onde passavam. O Flamenco é um misto dessas culturas, mas que se deve sua difusão e explosão aos nossos queridos calons espanhóis: os famosos gitanos. De seu lamento e sua explosão alegre e vivaz, surge essa arte que envolve e contagia os povos do mundo; sejam ciganos ou gajões (payos na língua dos gitanos e que significa “não-cigano”). Seu jeito peculiar e único transcende as lógicas da racionalidade e mergulha no âmago da alma humana, comum a toda e qualquer etnia mesmo sabendo que os espanhóis do sul são os mais calientes. Mas as ciganas de lá ainda respeitam o uso do lenço na cabeça apesar de não ligarem tanto. A rosa presa na cabeça fala mais alto quando se quer saber se é ou não casada.


Basicamente calcado em bailes com taconeados e acompanhados pela guitarra, o Flamenco tem toda a sua essência gerada através do cante que é sua raíz. O violão, que nasceu na própria Espanha, veio com o passar do tempo e a dança foi criada pelo cigano espanhol misturando suas danças de herança com algumas danças espanholas da região. Calé é a língua oficial deste povo que misturou o romanes ao espanhol e ao catalão, em raras exceções com o árabe, dando origem a uma língua espetacular e típica desses ciganos espanhóis.



Confunde-se muito o Flamenco com as outras danças espanholas. Levamos em consideração que a Espanha possui quatro escolas de danças diferentes entre si onde o Flamenco é uma delas. Na sua forma mais pura, não se usa castanholas por estar distante da realidade flamenca e sim os pitos (estalar dos dedos), mas não se proíbe seu uso desde que não interfira na alma flamenca. Inclusive porque a castanhola é uma interferência acadêmica e foi inserida por uma bailarina clássica espanhola que fazia flamenco. A tão famosa La Argentinita. Depois os outros artistas foram incorporando o uso segundo sua vontade assim como outros instrumentos.  Dentro da cultura cigana as mulheres não exibem suas pernas por questões culturais. É comum vê-las com muitas saias longas. Porém as ciganas espanholas são as únicas que o fazem durante suas danças enérgicas e pela necessidade de levantá-las para sapatear mesmo usando uma anágua comprida quase do tamanho da saia principal. Existiu uma bailaora (dançarina) chamada La Chunga que dançava descalça nos tablados dos anos 50/60 e que hoje é uma artista plástica que retrata sua cultura. Isso também fez com que os calons fossem visto de forma diferenciada pelos outros grupos ciganos, visto que eles se misturaram com o povo local casando-se algumas vezes com payos (não-cigano).

Existem alguns ritmos como a Zambra e a Alboreá que são exclusivos dos gitanos (cigano espanhol) e que se incorporam ao contexto Flamenco sendo considerados “aflamencados” assim como outras danças espanholas que recebem influências flamencas como as Sevillanas, as Rumbas, Garrotins e as Farrucas que foram recriadas por eles.

Então sabemos que o Flamenco é a dança do Cigano Espanhol. Não se deve confundir com as outras danças espanholas e achar que toda dança espanhola é flamenca; nem tampouco achar que os ciganos de outros países saibam e façam o Flamenco; o que é exclusivo dos calons espanhóis. Aqui no Brasil quando se fala de dança cigana há uma mistura de elementos e até das próprias vestes. Levamos em consideração que hoje o Brasil é o encontro de todas as raças do mundo e não será abusivo ver que muitos ciganos e admiradores misturam tudo, salvo alguns dás que mantêm sua arte intacta apesar da facilidade de qualquer um se declarar e dizer descendente de ciganos vestindo-se e fazendo uso desta etnia e, muitas das vezes, sob orientação religiosa espiritual; ao qual devemos respeitar muitíssimo mas que não é de bom tom no lado comercial.

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