Cigana Fatima Amaya

Bandeira Cigana

***Não sabemos explicar muitos de nossos comportamentos mais expontâneos, porque fazem parte da nossa herança ancestral. Até que alguém acenda uma luz e nos diga claramente o porquê de detalhes que antes nem sequer notávamos.O extraordinário trabalho de pesquisa de Sándor Avraham é esta espécie de espelho, que nos deixa perplexos».

João Romano Filho (Sinto Estraxhari do Brasil)


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Cigana Fatima Amaya

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Banhos Ciganos

Para atrair amor 
 
2 litros de leite
4 colheres de mel
1 maça vermelha ralada
2 pauzinhos de canela
Como fazer:
Ferva o leite e acrescente os demais ingredientes. Deixe esfriar. Coe e use após o banho higiênico, da cabeça aos pés. Cubra a cabeça com uma toalha e vista-se sem enxurga-se, ou coloque um ropão. 

Para Paixão

1 maça vermelha
1 maço de salsa fresca
4 litros de água mineral
4 colheres de mel de flor de laranjeira
Como fazer:
No primeiro dia de lua cheia, coloque a água numa vasilha grande e acrescente os demais ingredientes. Coloque a vasilha num local onde você possa receber o frescor da noite e aluz da lua cheia. Na manhã seguinte, coe a mistura e utilize-a, após o banho habitual , da cabeça aos pés. Cubra a cabeça com uma toalha e vista-se sem enxugar-se, ou coloque um roupão. Os homens devem retirar a salsa e utilizar o banho somente com os demais ingredientes.


Para a fartura e prosperidade 
 
4 litros de água mineral
6 paus de canela pequenos
1 colher de chá de noz moscada ralada
6 folhas de louro
1 colher de sopa de erva-doce ou funcho
6 moedas douradas ou uma peça de ouro
Como fazer:
Pétalas de rosa amarela Num dia de lua cheia, ferva a água e acrescente os demais ingredientes, exceto as pétalas da rosa amarela. Coe. Guarde as peças de ouro e as moedas. Deixe esfriar e antes de utilizá-lo, acrescente as pétalas de rosa. Tome o seu banho habitual e utilize a mistura derramando-a generosamente da cabeça aos pés. Cubra a cabeça com uma toalha e vista-se sem enxugar-se, ou coloque um roupão. 
 
Para Sorte e Harmonização 

4 litros de água mineral
2 colheres de sopa de óleo de amêndoa para o corpo
10 gotas de essência de rosas
Pétalas de rosa branca, lírio e angélica
1 quartzo branco bruto
1 quartzo rosa bruto
1 citrino bruto
1 ametista Como fazer:
Numa noite de lua crescente, coloque todos os ingredientes numa vasilha grande e deixe-a num local onde possa receber o frescor da noite e a luz da lua. Na manhã seguinte, após o banho higiênico, banhe-se na mistura, comprimindo as pétalas de rosa sobre a pele do corpo. Não se enxugue. Vista-se com um roupão e enrole uma toalha nos cabelos. Vista-se com roupas claras.

Para Proteção Espiritual
 
10 ramos de alecrim fresco, sem os galhos
30 gotas de essência de verbena
1 punhado de sal grosso
4 litros de água mineral
Como fazer:
Ferva a água, desligue a chama e coloque os ramos de alecrim e o sal grosso. Deixe esfriar. Macere o alecrim com as mãos, como quem esfrega uma roupa. Antes de utilizar o banho, acrescente as gotas de verbena. Banhe-se do pescoço para baixo e deixe a água secar naturalmente ou use um roupão. Duas horas depois, tome uma chuveirada, se estiver sentindo um sono anormal.

Para afastar o mau olhado ou quebranto 
 
3 litros de água mineral
1 garrafa de cerveja clara
Como fazer:
Misture a cerveja com a água e banhe-se da cabeça aos pés, após o banho higiênico. Enrole uma toalha na cabeça e vista-se sem enxugar-se.

Para retirar a negatividade 
 
4 litros de água mineral
2 punhados de sal grosso
2 dentes de alho roxo cortados em cruz
5 galhos de arruda macho
5 galhos de arruda fêmea
Como Fazer:
Ferva a água com os dentes de alho cortados. Quando a água estiver morna, acrescente a arruda, tratando de macerá-la, até que esteja totalmente desfeita. Misture o sal. Deixe esfriar e coe. Use do pescoço para baixo, após o banho habitual. Passadas duas horas, tome uma chuveirada de água morna ou fria. Faça na lua minguante.

Rituais Ciganos

Ritual Cigano para atrair dinheiro para sua casa 
1 punhado de folhas de louro (seco)
1 punhado de erva-doce (seca)
1 recipiente para queimar as ervas
Como Fazer:
Faça uma defumação com as folhas de louro e erva-doce, dos fundos de sua casa, até a porta da frente, dizendo: 

“Que esta casa tenha sempre dinheiro e fartura”. 
 
1 maçã vermelha
2 pregos novos
Como fazer:
Obs: Ideal fazer este encanto numa sexta-feira 13.
Pegue a maça vermelha e crave os dois pregos em pontos opostos da fruta. Vá até uma árvore, que poderá ser até em sua residência e enterre-a aos pés da árvore, mas não esqueça de marcar bem o local. É importante que durante este ritual você tenha o pensamento centralizado em seu desejo e necessidade de um emprego. Quando você conseguir o emprego, desenterre a maça, guarde os pregos, como um amuleto de proteção do seu trabalho e a fruta jogue no lixo.

Ritual cigano para o amor  

1 maça vermelha
1 pires ou prato branco
1 rolinho de fita vermelha
2 colheres de mel de abelha
Como fazer:
Corte a maça no meio (de cima para baixo). Escreva num pedacinho de papel o nome de seu amor e coloque o papel no meio das duas partes da maça. Coloque o mel junto ao papel e feche a maça. Com a linha vermelha envolva toda a maça(envolva-a com a linha) e coloque num pires ou prato branco. Deixe num local escondido de sua casa durante 7 dias. No oitavo dia coloque a maça com o prato no jardim.
Se você ainda não tem um pretendente, coloque no papel um amor de verdade” assim com certeza você vai encontrar alguém muito especial.


Ritual Cigano para a saúde

' 1 dente de alho 1 pedaço de papel com o nome das pessoas que moram em sua casa Como fazer: Enrole o dente de alho com o papel que tem o nome das pessoas que moram em sua casa, depois envolva tudo num plástico transparente, por fim, prenda com fita adesiva num quadro de sua casa. É muito importante que durante o ritual você peça a proteção de Santa Sara.  


Ritual Cigano para esquecer um amor
 

1 pedaço de papel branco
Como fazer:
Numa noite de domingo, escreva em um papel branco o nome da pessoa que você quer esquecer, dobre o papel sete vezes, enterre-o em um jardim e jogue sete punhados de terra sobre ele, dizendo: “Que a força desta terra cubra os meus pensamentos e eu esqueça o fulano”. Em sete semanas a pessoa não fará mais parte dos seus pensamentos amorosos.



sexta-feira, 27 de maio de 2011

TRADIÇÕES CULTURAIS: COMUNIDADE CIGANA




Resumir a cultura cigana ouvindo poucos ciganos é uma missão realmente impossível. Nos próximos minutos, vamos apresentar apenas alguns poucos aspectos dessa cultura que hoje vem perdendo espaço dentro das comunidades. A música e a dança cigana são os aspectos mais conhecidos da vasta cultura desse povo que atravessou o mundo. Os ciganos foram agregando traços dos locais por onde passaram, bem como deixaram a sua própria riqueza cultural pelos caminhos. No Brasil, a faceta mais conhecida da música cigana é aquela que veio da Espanha, onde o grupo Gipsy Kings é um dos expoentes mais conhecidos. No entanto, o violino e o acordeón são considerados instrumentos ciganos e podem ser apreciados principalmente pelas composições feitas no leste europeu. Ciganos brasileiros também apreciam muito a música sertaneja. Em uma festa cigana no nordeste do país, por exemplo, a dupla Milionário e José Rico é presença certa.



E principalmente em meio às caravanas, um canto tradicional surge nas noites onde todos se reúnem em torno da fogueira e lembram os parentes e amigos que já morreram. O jaipem é um canto melancólico que os ciganos entoam nas noites em que a saudade dos que se foram fala mais alto, como lembra o cigano Jucelho Dantas.


"Essa proximidade das barracas, normalmente à noite quando todo mundo está mais livre da sua lida, aquele fogo à lenha, todo mundo ali em torno conversando, a aí normalmente pinta aquela nostalgia, a conversa com os colegas ali, lembram de alguém, de algum parente e começa o canto, que é uma espécie de lamento, é uma coisa melancólica. E aí eles começavam a cantar, e muitos começavam até a chorar".

Jucelho é professor da Universidade Federal de Feira de Santana, na Bahia. Até os 16 anos sua família foi nômade e atravessou grande parte do Recôncavo Baiano. As lembranças dessa época não são fáceis, e ele se recorda das pessoas recolhendo os animais e chamando as crianças quando avistavam a caravana.



Mas as recordações doces também fazem parte da infância e da juventude de Jucelho e ele conta que sua mãe cantarolava o jaipem para ninar os filhos, principalmente quando sentia saudade da irmã que estava longe ou do pai que já tinha morrido. Hoje, a família de Jucelho está instalada em Camaçari, e o jaipem é uma tradição que os mais jovens já não conhecem com a mesma naturalidade de décadas atrás. É a tradição perdendo espaço para a modernidade, em especial a televisão. O jaipem foi premiado com o segundo lugar no prêmio de Culturas Ciganas do Ministério da Cultura, que ocorreu neste ano de 2008.

Fátima Amaya

O prêmio recebeu 93 inscrições e premiou 20 iniciativas que valorizaram a cultura cigana. O irmão de Jucelho, Gilson Dantas também inscreveu um vídeo mostrando como acontece um casamento cigano. Na tela se vê muita fartura nas comidas e bebidas, muita animação na música sertaneja e as mulheres com belos vestidos e jóias de ouro. Gilson destaca que outro aspecto da cultura cigana está perdendo espaço para a modernidade: a língua própria dos ciganos, que no clã kalon é o kalé. Segundo Gilson, a língua tem sido cada vez menos usada pelos ciganos que estão em residências fixas em Camaçari.

"Hoje praticamente não é usado, mas antigamente quando os ciganos andavam acampando, comprando e vendendo cavalos, era a arma deles, a língua deles. Por exemplo, se ele quisesse te xingar, ou o seu pai ou sua mãe, milhões de coisas que ele quisesse dizer pra você, ele dizia e você não estava nem sabendo, mas os outros ciganos estavam sabendo. E o engraçado é que os ciganinhos novos que iam nascendo, com a convivência, ia pegando sem ninguém ensinar. Mas essa língua praticamente ninguém usa mais".

Gilson explica que seus filhos e netos sabem falar a língua, no entanto não conhecem tantas palavras e expressões, já que não se fala o kalé rotineiramente entre as famílias. Para ele, escrever a língua cigana é uma traição ao povo, mas essa opinião não é unanimidade entre os ciganos. A jornalista Paula Soria, por exemplo, defende a realização de registros nas línguas ciganas, e mais do que isso, ela acredita que a literatura cigana pode atuar de forma a mostrar a realidade do povo cigano de forma mais verdadeira.


Gypsy Alexandra e Carmen

"A literatura tem essa capacidade, esse potencial subversivo de poder falar de coisas que muitas vezes eu aqui em uma entrevista não posso mostrar, ser tão crua, tão direta, denunciar onde estão os problemas tanto dentro como fora. A literatura fala, expõe e mostra realmente a problemática sem censura e isso chega realmente ao outro. Onde está o sofrimento étnico, como são as situações vivenciadas, como é viver sempre vítima, não gosto dessa apalavra, mas viver sempre vítima do estigma. Como é viver, sou cigano e saber que o não cigano vai pensar: cuidado, mente muito, só lê mão, só dança, ou seja, como é viver com isso?".

Paula fez uma tese de mestrado sobre os estereótipos do povo cigano na literatura dos não ciganos. No trabalho, ela também analisou os livros do escritor Jorge Nedich, cigano argentino que é professor universitário e já publicou diversos livros de ficção sobre a realidade do povo cigano.


Outra tradição cigana que está sendo afetada pela modernidade é a da vestimenta. A maior parte das pessoas imagina as mulheres ciganas em belos e coloridos vestidos. Mas a cigana Edinha Cerqueira, que vive em Porto Seguro, conta que hoje as meninas ciganas usam cada vez mais saias e blusas comuns. Quando ela soube do Prêmio de Culturas Ciganas, comprou vários cortes de tecido para costurar o que as vestes ciganas apresentam de mais rico.

"A cultura da vestimenta está acabando, as roupinhas que as meninas estão usando são sainha e blusinha. Aí resolvi mandar isso aí, que é uma coisa que todo mundo ficou feliz. Comprei as roupas para as meninas do meu acampamento, eu mesma corto e costuro".




O trabalho de Edinha conquistou terceiro lugar no Prêmio de Culturas Ciganas.

Os tecidos são variados e os estilos de vestidos também. Os babados, rendas estão muito presentes, e para os vestidos de festa, tecidos nobres como a organza e o cetim. Edinha se casou aos 14 anos, e tem 3 filhos. Para os vestidos do cotidiano, ela fala que usa apenas duas cores, pois roupas mais chamativas atraem os olhares dos não ciganos. Ela menciona até que os ciganos vestidos em suas roupas atraem a atenção onde quer que estejam, algo até compreensível considerando que são vestes realmente bonitas. A única cor que não é usada é o preto, cor que apenas as viúvas trajam.

Mirian Stanescon é advogada, liderança cigana conhecida nacionalmente e representa o povo cigano no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial. No que diz respeito à vestimenta cigana, ela concorda que as tradições estão se perdendo em função do preconceito que as roupas despertam fora da comunidade. Ainda assim, ela se coloca como defensora ferrenha da tradição.

"Inclusive eu estive em um casamento cigano agora, que a maioria das moças que vieram de São Paulo não vieram com roupa romanês. Eu fiz questão, eu e minhas filhas estávamos lá com roupa de cigana. E eu senti que elas se envergonharam, e é pra se envergonhar mesmo. Vou dar um recado no seu programa. Acho que a mulher cigana tem que ter orgulho da nossa roupa. O que está acontecendo, as não ciganas estão se fantasiando de ciganas e as ciganas, com medo do preconceito, estão botando roupa de gajé, e estão se perdendo as tradições".

A cultura cigana é muito vasta e mostra os valores de um povo que a maior parte das pessoas realmente não conhece.








terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem é o povo Cigano?





O fato do Povo Cigano não ter, até os dias atuais, uma linguagem escrita, fica quase impossível definir sua verdadeira origem. Portanto, tudo o que se disser a respeito de sua origem está largamente baseado em conjecturas, similaridades ou suposições.
A hipótese mais aceita é que o Povo Cigano teve seu berço na civilização da Índia antiga, num tempo que também se supõe, como muito antigo, talvez dois ou três milênios antes de Cristo. Compara-se o sânscrito, que era escrito e falado na Índia (um dos mais antigos idiomas do mundo), com o idioma falado pelos ciganos e encontraram um sem-número de palavras com o mesmo significado. E assim, os Ciganos são chamados de "povos das estrelas" e dizem que apareceram há mais de 3.000 anos, ao Norte da Índia, na região de Gujaratna localizada margem direita do Rio Send e de onde foram expulsos por invasores árabes.
Outros pontos também colaboram para que esta hipótese seja reforçada, como a tez morena comum aos hindus e ciganos, o gosto por roupas vistosas e coloridas, e princípios religiosos como a crença na reencarnação e na existência de um Deus Pai e Absoluto. E com respeito à suas crenças, tanto para os hindus como para os ciganos, a religiosidade é muito forte e norteia muito de seu comportamento, impondo normas e fundamentos importantes, que devem ser respeitados e obedecidos.
Depois de vagarem pelas Terras do Oriente, os ciganos invadiram o Ocidente e espalharam-se por todo o mundo. Essa invasão foi uma das únicas na história da humanidade que foi feita sem guerras, dor ou derramamento de sangue. O que não se sabe ainda é se esses eternos viajantes pertenciam a uma casta inferior dentro da hierarquia indiana (os parias) ou de uma casta aristocrática e militar, os orgulhosos (rajputs). Independente de qual fosse seu status, a partir do êxodo pelo Oriente, os ciganos se dedicaram com exclusividade a atividades itinerantes: como ferreiros, domadores, criadores e vendedores de cavalo, saltimbancos, comerciantes de miudeza e o melhor de suas qualidades que era a arte divinatória. Viajavam sempre em grandes carroças coloridas e criaram nomes poéticos para si mesmos.
No primeiro milênio d.C., deixaram o país e se dividiram em dois ramos: o Pechen que atingiu a Europa através da Grécia; e o Beni que chegou até a Síria, o Egito e a Palestina. Existem vários clãs ciganos: o Kalê (da Península Ibérica); o Hoharano (da Turquia); o Matchuaiya (da Iugoslávia); o Moldovan (da Rússia) e o Kalderash (da Romênia). São mais de 15 milhões de ciganos em diferentes pontos da Europa, Ásia, África, América, Austrália e Nova Zelândia. Quase sempre os ciganos eram bem recebidos nos países onde chegavam. Os chefes das tribos apresentavam-se de forma pomposa, como príncipes, duques e condes (títulos, aliás inexistentes entre os ciganos). Diziam-se peregrinos cristãos vindos do Egito e, assim obtinham licença das autoridades locais para se instalarem.
Ao contrário do que muitos pensam, o Povo Cigano é que foi perseguido, julgado e expulso ao longo do seu pacífico caminhar. Na Moldávia e na Valáquia (atual Romênia), os ciganos foram escravizados durante trezentos anos; na Albânia e na Grécia pagavam impostos mais altos. Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a desculpa de que "iriam estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a Áustria puniam com severidade quem os acolhesse. Nos países baixos inúmeros ciganos foram condenados à forca e seus filhos obrigados a assistir à execução dos pais para que assim aprendessem a "lição de moral". Apenas no país de Gales eles tiveram espaço para manter parte das suas tradições e a língua.
Os ciganos chegados em Andaluzia no séc. XV vieram do norte da Índia, da região do Sind (atual Paquistão), fugindo das guerras e dos invasores estrangeiros (inclusive de Tamerian, descendente de Gengis Khan) eles encontraram facilidades e estabeleceram-se. Mesmo assim, durante a inquisição católica, vários deles foram expulsos pelos tribunais do Santo Ofício. . As tribos do Sind se mudaram para o Egito e depois para a Checoslováquia, Rússia, Hungria e Polônia, Balcãs e Itália, França e Espanha. Seus nomes se latinizaram (de Sindel para Miguel; de András para André; de Pamuel para Manuel, etc.). O primeiro documento data a entrada dos ciganos na Espanha em 1447. Esse grupo se chamava a si mesmo de "ruma calk" (que significa homem dos tempos) e falavam o Caló (um dialeto indiano oriundo da região do Maharata). Eles trouxeram a música, a dança, as palmas, as batidas dos pés e o ritmo quente do "flamenco", tanto que essa palavra vem do árabe "felco" (camponês) e "mengu" (fugitivo) e passou a ser sinônimo de "cigano andaluz" à partir do séc. XVIII.
Porém de acordo com a Tradição Cigana, a teoria mais freqüente sobre a origem do Povo Cigano, é que após um período de adaptação neste planeta, os ciganos teriam surgido do interior da Terra e esperam que um dia possam regressar ao seu lar. Existem lendas que falam que os ciganos seriam filhos da primeira mulher de Adão, Lilith, e, portanto, livres do pecado original) e por isso eles não aceitam de modo algum ser empregados dos "gadjé" (não-ciganos) e apegam-se a antigas profissões artesanais que caracterizam suas tribos e são ensinadas desde cedo às crianças.
O Povo Cigano é guardião da LIBERDADE. Seu grande lema é: "O Céu é meu teto; a Terra é minha pátria e a Liberdade é minha religião", traduzindo um espírito essencialmente nômade e livre dos condicionamentos das pessoas normais geralmente cerceadas pelos sistemas aos quais estão subjugadas. A vida é uma grande estrada, a alma é uma pequena carroça e a Divindade é o Carroceiro.
Em sua maioria, os ciganos são artistas (de muitas artes, inclusive a circense); e exímios ferreiros, fabricando seus próprios utensílios domésticos, suas jóias e suas selas. Rotulados injustamente como ladrões, feiticeiros e vagabundos, os ciganos tornaram-se um espelho onde os homens das grandes cidades e de pequenos corações expiaram suas raivas, frustrações e sonhos de liberdade destruídos. Pacientemente, este povo diferenciado, continuou sua marcha e até hoje seus estigmas não sararam.
Na verdade cigano que se preza, antes de ler a mão, lê os olhos das pessoas (os espelhos da alma) e tocam seus pulsos (para sentirem o nível de vibração energética) e só então é que interpretam as linhas das mãos. A prática da Quiromancia para o Povo Cigano não é um mero sistema de adivinhação, mas, acima de tudo um inteligente esquema de orientação sobre o corpo, a mente e o espírito; sobre a saúde e o destino.
A família é a base da organização social dos ciganos, não havendo hierarquia rígida no interior dos grupos. O comando normalmente é exercido pelo homem mais capaz, uma vez que os ciganos respeitam acima de tudo a inteligência. Este homem é o Kaku e representa a tribo na Krisromani, uma espécie de tribunal cigano formado pelos membros mais respeitados de cada comunidade, com a função de punir quem transgride, a rígida ética cigana. A figura feminina tem sua importância e é comum haver lideranças femininas como as phury-day (matriarca) e as bibi (tias-conselheiras), lembrando que nenhum cigano deixa de consultar as avós, mães e tias para resolver problemas importantes por meio da leitura da sorte.
Esse povo canta e dança tanto na alegria como na tristeza pois para o cigano a vida é uma festa e a natureza que o rodeia a mais bela e generosa anfitriã. Onde quer que estejam, os ciganos são logo reconhecidos por suas roupas e ornamentos, e, principalmente por seus hábitos ruidosos. São um povo cheio de energia e grande dose de passionalidade. São tão peculiares dentro do seu próprio código de ética; honra e justiça; senso, sentido e sentimento de liberdade que contagiam e incomodam qualquer sistema.
O líder de cada grupo cigano, chama-se Barô/Gagú e é quem preside a Kris Romanis (Conselho de Sentença ou grande tribunal do povo rom) com suas próprias leis e códigos de ética e justiça, onde são resolvidas todas as contendas e esclarecidas todas as dúvidas entre os ciganos liderados pelos mais velhos. O mestre de cura (ou xamã cigano) é um Kakú (homem ou mulher) que possui dons de grande para-normalidade. Eles usam ervas, chás e toques curativos. Os ciganos geralmente se reúnem em tribos para festejar os ritos de passagem: o Nascimento, a Morte, o Casamento e os Aniversários; e acreditam na Reencarnação (mas não incorporam nenhum espírito ou entidade). Estão sempre reunidos nos campos, nas praias, nas feiras e nas praças.
O misticismo e a religiosidade, fazem parte de todos os hábitos da vida cigana. A maior parte deles acredita em um único deus (Dou-la ou Bel) em eterna luta contra o demônio (Deng). Normalmente, assimilam as religiões do lugar onde se encontram, mas jamais deixam de lado o culto aos antepassados, o temor dos maus-olhados, a crença na reencarnação e na força do destino (baji), contra a qual não adianta lutar. O mais importante para o Povo Cigano é interagir com a Mãe Natureza respeitando seus ciclos naturais e sua força geradora e provedora.
Outro fato que chama a atenção para a provável origem indiana do povo cigano, é a santa por quem nutrem o mais devotado amor e respeito, chamada Santa Sara Kali. Kali é venerada pelo povo hindu como uma deusa, que consideram como a Mãe Universal, a Alma Mater, a Sombra da Morte. Sua pele é negra tal como Shiva.
Para os ciganos, Sara, santa venerada, possui a pele negra, daí ser conhecida como Sara Kali, a negra. Ela distribui bênçãos ao povo, patrocina a família, os acampamentos, os alimentos e também tem força destruidora, aniquilando os poderes negativos e os malefícios que possam assolar a nação cigana. Seu mistério envolve o das "virgens negras", que na iconografia cristã representa a figura de Sara, a serva (de origem núbia) que teria acompanhado as três Marias: Jacobina, Salomé e Madalena, e, junto com José de Arimatéia fugido da Palestina numa pequena barca, transportando o Santo Graal (o cálice sagrado), que seria levado por elas para um mosteiro da antiga Bretanha. Diz o mito que a barca teria perdido o rumo durante o trajeto e atracado no porto de Camargue, às margens do Mediterrâneo, que por sua vez ficou conhecido como "Saintes Maries de La Mer", transformando-se desde então num local de grande concentração do Povo Cigano.
Quase todos são devotos de "Santa Sara", que é reverenciada nos dias 24 e 25 de maio, em procissões que lotam Lês Saints Maries de La Mer, em Camargue, no Sul da França. Através de uma longa noite de vigília e oração, pelos ciganos espalhados no mundo inteiro, com candeias de velas azuis, flores e vestes coloridas; muita música e muita dança, cujo simbolismo religioso representa o processo de purificação e renovação da natureza e o eterno "retorno dos tempos".
A sexualidade é outro ponto importante entre os ciganos. E, ao contrário do que se imagina, eles têm uma moral bastante conservadora. Alguns mitos antigos falam da existência das mães-de-tribo, que tinham um marido e um "acariciador". Outros falam das gavalies de la noille, as misteriosas noivas do fim de noite, com quem os kakus se encontravam uma única vez, passando desde então, a ter poderes especiais. Mas o certo mesmo é que os ciganos se casam cedo, quase sempre seguindo acordos firmados entre as duas famílias. Não recebem nenhum tipo de iniciação sexual e ter filhos é a principal função do sexo. Descobrir os seios em público é comum e natural, mas nenhuma mulher pode mostrar as pernas, pois da cintura para baixo todas são merimé (impuras). Vem daí a imposição das saias compridas e rodadas para as mulheres, que também são proibidas de cortar os cabelos, e nunca sentam à mesma mesa que os homens. Ironicamente, como praticantes da magia e das artes divinatórias, são elas que cada vez mais assumem o controle econômico da família, pois a leitura da sorte é a principal fonte de renda para a maioria das tribos. O resultado é uma situação contraditória, em que o homem manda, mas é a mulher quem sustenta o grupo.
As crianças ciganas normalmente só freqüentam até o 1o. Grau nas escolas dos gadjés (não-ciganos), para aprenderem apenas a escrever o próprio nome e fazer as quatro operações aritméticas. A maioria das crianças não vai à escola com receio do preconceito existente em relação a elas. Claro que com o acelerado processo de aculturação, um bom número de ciganos, disfarçadamente, estão freqüentando as universidades e até ocupando cargos de importância na vida pública do país e já chegaram até à Presidência da República. (Washington Luiz e Juscelino Kubitshek).
Para o Povo Cigano, a Lua Cheia é o maior elo de ligação com o "sagrado", quando são realizados mensalmente os grandes festivais de consagração, imantação e reverenciação à grande "madrinha". A celebrações da Lua Cheia, acontecem todos os meses em torno das fogueiras acesas, do vinho e das comidas, com danças e orações. Também para os ciganos tudo na vida é "maktub" (está escrito nas estrelas), por isso são atentos observadores do céu e verdadeiros adoradores dos astros e dos sidéreos. Os ciganos praticam a Astrologia da Mãe Terra respeitando e festejando seus ciclos naturais, através dos quais desenvolvem poderes verdadeiramente mágicos.
Para uma kalin (cigana kalon), descendente desse povo, essa é uma hora em que precisamos estar atentos e vigilantes para ouvirmos uma espécie de "chamado mítico" que a dura realidade planetária está nos fazendo, e, nos unirmos em corpo e espírito com as forças maiores que regem esse universo.
Os Ciganos são "povos das estrelas" e para lá voltarão quando morrerem ou quando houver necessidade de uma grande evacuação. Há milênios eles vem cumprindo sua missão neste Planeta, respeitando e reverenciando a Mãe Natureza, trocando e repassando conhecimento. Eles pregam a necessiade urgente de pisar na superfície desse lindo "planeta água" (símbolo da emoção e da sensibilidade que preenche nossos corações) observando não só a violência praticada contra as minorias, como também os incríveis gestos de solidariedade humana mostrados via satélite ou pela Internet, na mesma velocidade da luz ou do pensamento humano, nessa era de virtualidade nem um pouco caracterizada pelas mais elementares virtudes.

OBS.: Parte deste texto foi retirada de uma Palestra apresentada pela Cigana Sttrada ( do clã Kalon) na 7ª edição do "Encontro para a Nova Consciência", em Fevereiro de 1998, em Campina Grande-PB.